Numa iniciativa louvável organizou no dia 17 de Novembro, durante três horas um interessante debate opondo os três candidatos à presidência da UNITA: Isaías Samakuva, Paulo Lukamba “Gato”, e Camalata Numa. Nem de propósito. Numa ardilosa tentativa tentaram esconder, mas não conseguiram, que ali havia gato escondido com um (enorme) rabo de fora.
No entanto, tal como o velho adágio popular diz que “a esmola quando é demais o pobre desconfia”, a iniciativa mostrou que – já que estamos em maré de adágios – o seguro morreu de velho e o desconfiado ainda anda por aí. A esperteza saloia da TV Zimbo, que mais uma vez de sentou na linha da frente (para ser vista), esbarrou na inteligência dos convidados (sentado na última fila para ver onde a onça estava acoitada) e viu o tiro sair pela culatra, ou dois dos convidados não fossem generais tarimbados numa longa guerra.
Tal como uma hiena que atrai as vítimas… chorando, a TV Zimbo lançou o isco na esperança de que se assistiria a um confronto quase bélico entre os candidatos, dando como certo que toneladas de roupa suja seriam ali lavadas na presença dos telespectadores.
Aliás, os mabecos estavam filados em que iriam comer de cebolada um apetitoso “Galo Negro”, ainda por cima servido por três das suas principais figuras. Os famintos carnívoros do MPLA queriam brindar com champanhe, ainda por cima sabendo-se que o chefe da matilha é “acusado” de ser o dono da TV Zimbo.
Experimentados nas lides, os homens da UNITA mostraram ao país a sua maturidade e sentido de Estado, mostrando à saciedade e à sociedade que a roupa suja, quando existe, lava-se em casa e não na praça pública.
Ao contrário do MPLA, que tem os mesmo líder há 36 anos e que não admite alternâncias de liderança, a UNITA voltou a demonstrar que, em democracia, é possível e desejável um partido ter mais do que uma candidatura à liderança, num construtivo espírito de liberdade em que as candidaturas não dividem, pelo contrário – unem, solidificam o espírito de corpo e a responsabilidade das partes, sem subalternizações.
No geral defenderam a UNITA e Jonas Savimbi, mas divergiram, enquanto candidatos à liderança, quanto à longevidade de Samakuva no poder. De facto, 12 anos começa a ser muito e o espectro do MPLA, nesta matéria, faz-se sentir. É claro que esse tempo resulta da escolha dos militantes, mas um bom líder sabe ver quando é tempo de passar o testemunho, a bem do país e do partido.
Todos sabemos, e Isaías Samakuva também sabe, que se o poder temporário corrompe, o poder prolongado corrompe muito mais. É dos livros que os poderes instalados, seja na escala micro como na macro, não querem perder as mordomias e, para isso, até consegue “matar” o líder com elogios em vez de o salvar com críticas
Tal como questionaram os telespectadores, o tempo de liderança de Samakuva põe em causa a legitimidade moral, ética e política para criticar o Presidente da República.
É certo que, como disse Samakuva, os estatutos do partido não limitam os mandatos. Mas os estatutos não são propriamente a Bíblia e mesmo esta sofreu alterações ao longo dos tempos. Daí que Camalata Numa tenha assumido que, se ganhar, vai alterar os estatutos, para que não se repitam ciclos viciosos.
Gato tem uma divergência mais radical quanto à questão da limitação estatutária, pois diz que para além desta ser omissa há uma questão moral e ética que, de facto, não é despicienda. Ou seja, Samakuva perdeu duas eleições com o MPLA, em 2008 e 2012, impondo-se por isso encontrar um candidato ganhador.
Samakuva contrapõe com os seus ganhos de experiência nos primeiros anos que foram vitais para conhecer e organizar a máquina do partido, dizendo ter, agora, ideias mais fixas sobre novas acções, para fazer uma oposição mais consistente que pode levá-lo ao poder, por ser conhecedor do real sentimento do povo. A sua análise comparativa com a governação do MPLA mostrou que, apesar do desgaste, tem estofo e estaleca para chegar ao poder.
Reconheça-se que Isaías Samakuva, não fazendo esquecer a estatura de Jonas Savimbi, nem nunca foi essa a sua missão, conseguiu interna e externamente um bom pecúlio de crédito político, sendo muitos os políticos internacionais que consideram ter sido a UNITA o pai da democracia em Angola.
Nesta matéria a opinião dos três candidatos é unânime. Se não fosse a sua luta da UNITA, a democracia não existiria, nem de forma incipiente, como agora acontece, desde logo porque o próprio José Eduardo dos Santos diz que ela lhe foi imposta.
Recordaram até que na Jamba havia um simulador de Parlamento, orientado por Jonas Savimbi, onde muitos ganharam traquejo na perspectiva de que um dia a luta deixaria a mata e a linguagem das armas para enveredar pelo confronto das ideias.
A pergunta estava engatilhada há muito e fora soprada várias vezes. Chegara o momento: “Como assim, vocês tinham outros partidos?”
Camalata Numa puxa dos galões e diz: “não brinque com a nossa inteligência. Como poderíamos ter criado a UNITA para combater a ditadura do MPLA? Era um Parlamento simulado, do tipo parlamento-escola”.
Gato ressalta a necessidade do partido dialogar mais com a sociedade civil, aposta numa política de oposição mais construtiva, quer a UNITA ao lado doPovo.
Questionado pelo jornalista sobre ter assinado com o regime, em 2002, um “pacto de regime” secreto, Gato foi evasivo, mas disse nunca se ter comprometido em “vender” o partido, mas que agiu com responsabilidade de Estado, visando alcançar a paz e a reconciliação, que infelizmente tarda em chegar. Por alguma razão, disse, a justiça distributiva ainda é uma miragem porque o regime tem prioridades nas quais o Povo não entra.
O jornalista dirige-se a Camalata Numa e diz ter ele uma imagem de radical e racista com base numa entrevista ao F8 em que dizia que os mulatos seriam varridos. Ao contrário do que certamente o jornalista esperava, Numa confirmou ter dado a entrevista ao seu amigo do F8 e não ter tido laivos racistas, mas falado a verdade, chamado as coisas pelos nomes, reflectindo o que as pessoas dizem. Explicou que basta ir aos bancos comerciais e às empresas estrangeiras e depois sair para outras realidades e entrar no país real.
Ora então… a UNITA é um partido de Ovimbundus?
Eis a explicação, assumida e transparente: “Não basta ver a composição inicial da UNITA, pese não se poder desengajar a sua base social de apoio inicial, mas desde a fundação tivemos dirigentes de outras etnias como o mais velho Zau Puna, Ernesto Mulato, Tony da Costa Fernandes, Adalberto Júnior, Tchassanha e outros e ainda mais recentemente como líder da JURA o Mfuca Muzembe, que concorreu com outros três sendo um destes filhos de um veterano do partido e foi o Mfuca do norte o eleito”.
E eis (quem não se sente não é filho de boa gente) o contra-ataque: “Mas diga-me: No MPLA nos 8 primeiros lugares há quem não seja Kimbundu? Não existe nenhum Ovimbundu com poder real, na sua liderança. Só decorativos.”
Sacramentalmente, ao estilo do Pravda, as questões típicas: A UNITA tem dinheiro no estrangeiro, fruto da venda dos diamantes? A resposta não poderia ser mais assertiva: “Não tem nada, em nenhum banco estrangeiro.”
– E as sanções da ONU.
“Estas não encontraram em nenhum banco no mundo dinheiro da UNITA. Mas as sanções da ONU foram “sui generis”, nunca nenhum outro movimento as havia recebido e nada encontraram. A UNITA tinha de servir de estudo em teses de doutoramento, pela forma como nos organizamos e resistimos, com tão pouco”.
– Vocês exploravam diamantes? Quanto faziam?
– Sim, de forma artesanal e por mês cerca de 15 milhões de dólares, mas mesmo assim, nos sustentávamos, um exército e a população, com todos os serviços, desde escolas, hospitais e outros, com esse montante. Mais, a UNITA foi o único partido na África Austral que não trouxe, depois da guerra nenhuma factura para o Estado pagar. A UNITA não tinha dívidas internas e externas, com aquele dinheiro pagávamos tudo, inclusive, as delegações das missões externas.
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