PEIXES
Quando chegam do mundo as notícias do seus caos, sofrimento, fome e restrição, as evidências de instabilidade e do colapso, o reforço das incertezas, a ameaça do desconhecido, e as pessoas começam, um pouco por todo o lado, a correr em círculos como galinhas desvairadas, deitando as mãos à cabeça na aflição de poderem vir a perder todas as suas apostas e duvidando – finalmente – dos planos e dos critérios e das certezas em nome das quais construíram e e sofreram e lutaram toda a sua vida, a única pessoa que não só não se inquieta, como até suspira de alívio é você.
É que da multidimensionalidade holográfica em que você vive e se move, conduzida por correntes e subtis e nadando por entre ondas e nuances que mais ninguém vê, sempre foi líquido que o mundo em que os outros acreditam viver é tão sólido e real como uma bolha de sabão.
Só que você nunca o conseguiu explicar. Até agora.
E agora também já não precisa.
Porque agora, que a ilusão da terra firme colectiva evaporou e despejou no oceano da existência – o oceano em que você nadou toda a vida - tantos marinheiros de água-doce desorientados, em pânico e de repente: você sente-se em casa.
É hora de ajudar os outros a nadar, a navegar estas águas novas com compaixão e sabedoria; é hora de levar para mais longe os seus abraços a náufragos.
Mas recorde que só pode nadar ágil nas águas se evitar ingestões: de alimentos e sentimentos pesados, de pensamentos e crenças limitadas, de relações condenadas e hábitos tóxicos, de anestesias para a dor. É que não há mar de que escapar que não seja o mesmo oceano de Amor: quem rejeita a dor é sua vítima, e quem a abraça Salvador.
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