Primeiro um post no Facebook, logo a seguir uma coisa rara: Mark Zuckerberg deu uma entrevista. O fundador do Facebook falou à CNN sobre a Cambridge Analytica e o poder da rede social que criou.
Mark Zuckerberg não dá entrevistas com regularidade, evitando falar com jornalistas sobre as práticas da rede social.
“Estou mesmo arrependido que isto tenha acontecido”, disse Mark Zuckerberg no início da entrevista à CNN. O co-fundador e presidente executivo do Facebook, a maior rede social do mundo, depois de quatro dias sem prestar comentários (e em completo silêncio na rede social) não só fez um post no Facebook a explicar as seis medidas que vai tomar para evitar novos casos como o da Cambridge Analytica, como falou diretamente com uma jornalista, algo que evita.
Reafirmando o que já havia avançado através da própria rede social, o presidente executivo do Facebook disse que vão investigar todas as aplicações da rede social. “Temos de ter a certeza que não há mais Cambridge Analyticas por aí”, comentou Zuckerberg à jornalista Laurie Segall.
Noutra promessa, o fundador da rede social disse que o Facebook vai construir uma ferramenta para todas as pessoas poderem saber se os seus dados foram utilizados pela Cambridge Analytica.
Questionado porque é que em 2015, quando jornalistas do The Guardian questionaram a rede sobre a empresa de análise de dados, Zuckerberg, defendeu-se: “Na altura banimos a aplicação do Kogan [o académico que criou a app que acedeu à informação]”. O líder do Facebook disse ainda que a empresa de análise de dados tinha mostrado ao Facebook a “certificação legal necessária” dizendo que tinha apagado os dados.
Estou habituado a que as pessoas quando dizem que vão fazer alguma coisa que estão legalmente obrigadas a fazer, que o façam”, disse Mark Zuckerberg, quanto a não terem confirmado se a Cambridge Analytica tinha ou não apagado os dados recolhidos.
Uma das promessas que o presidente executivo fez foi sobre a rede social ir ver todas as aplicações da plataforma para garantir que mais nenhuma está proceder como a Cambridge Analytica. “É um bocado difícil saber o que vamos encontrar, mas vamos rever milhares de aplicações”, disse Zuckerberg.
“Se me dissessem, em 2004, quando criei o Facebook, que ia estar preocupado com a defesa da democracia, não ia acreditar”, disse Zuckerberg relativamente à polémica das notícias falsas que também tem afetado a rede social . “Temos uma grande responsabilidade nisto”, referiu mencionando que “vêm aí grandes eleições nos Estados Unidos da América, Índia e Brasil já em 2018“. O criador da plataforma afirmou ainda que tem “a certeza que alguém vai tentar manipular as eleições para o congresso americano” através de “novas tácticas”. Para resolver isso, Zuckerberg afirmou que o Facebook já está a testar ferramentas de inteligência artificial para impedir que várias notícias falsas se propaguem.
Zuckerberg, na sequência da divulgação da polémica com a Cambridge Analytica, foi chamado a prestar declarações ao congresso americano, ao parlamento britânico e parlamento europeu. Quanto aos últimos dois, não avançou se vai responder ao pedidos, mas quanto a ir prestar declarações ao congresso americano, afirmou: “Se for o mais correto, faço-o”. O presidente executivo fugiu à questão dizendo que não é uma oportunidade para melhorar a imagem do Facebook e que há funcionários da empresa “mais qualificados”, no entanto, após insistência da jornalista de ser a pessoas mais indicada por ser o responsável máximo da empresa, afirmou: “Se for a pessoa mais indicada, irei.”
O líder da rede social falou ainda da necessidade de leis para as redes sociais. Dizendo que “não tenho a certeza se devemos ou não ser regulados”, referiu que “as pessoas devem saber quem está por detrás dos anúncios”. Mark Zuckerberg disse também que apesar de o Facebook já fazer por ser transparente neste sentido, existe a necessidade de normas explícitas quanto ao marketing nas redes sociais.
No fim, foi questionado como é que ter filhos mudou o trabalho que faz. “Antes queria ser lembrado, agora quero construir algo que, quando crescerem, as minhas filhas se orgulhem”. Zuckerberg é pai de duas crianças, a primeira nasceu em 2015, a segunda a agosto de 2017.
Esta é a minha filosofia agora. No final do dia pergunto-me: Vão as minhas filhas orgulhar-se do que fiz?”, disse Zuckerberg quanto ao trabalho que faz na rede social.
O que ficou por responder
Uma das principais questões que ficou por responder na entrevista foi porque é que a conta de Christopher Wylie, o ex-funcionário da Cambridge Analytica que divulgou as práticas da empresa, foi banido das redes sociais Facebook e Instagram (detida pelo Facebook).
A pergunta não foi feita nem o assunto foi referido por Zuckerberg. Wylie, através do Twitter, afirmou esta quarta-feira que aceitou falar às autoridades americanas e britânicas quanto à história que divulgou. “É altura de as nossas instituições democráticas terem controlo”, disse o programador. Wylie afirma que antes de a notícia ser divulgada já estava a colaborar com as autoridades.
Outro dos pontos sem resposta foi: “Teve o Facebook um papel pejorativo na eleições americanas de 2016?”. Segundo Zuckerberg “é difícil de dizer”. O presidente executivo aceitou que a empresa “teve algum impacto”, mas referiu que “é muito difícil de medir isso”.
As Fake News, atualmente, são ainda um problema propagado no Facebook. A rede social tem feito esforços para menorizar o impacto, mas sem uma solução definitiva.
Foram mais de 50 milhões os perfis de Facebook utilizados pela Cambridge Analytica para prever o sentido de voto nas eleições americanas. Tudo foi conseguido por, em 2013, Alexander Kogan, um académico da universidade britânica, ter criado uma aplicação no Facebook que, com consentimento de 300 mil utilizadores, recolheu os dados destes e dos amigos que tinham na rede social.
A história foi divulgada este fim-de-semana pelo The Guardian, e que teve desenvolvimentos do New York Times e do Channel 4, expôs muito concretamente o que pode ser feito com a informação que os utilizadores têm na rede social e as aplicações podem aceder. “A nossa app não era especial, havia milhares de aplicações a fazer exactamente o mesmo”, disse Kogan à CNN quanto à aplicação que criou.
O caso Cambridge Analytica gerou inúmeras críticas ao Facebook. Uma das mais proeminentes, foi de Brian Acton (co-criador do Whatsapp, comprado pelo Facebook) esta quarta-feira. Acton, juntando-se à hashtag#deletefacebook (apaguem o Facebook) disse apenas: “É o momento [para se apagar a conta]”. Por estes motivos, Zuckerberg decidiu falar com a CNN e publicar no Facebook as medidas que vão tomar.
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