Foi condenado a quatro anos de prisão, cumpriu metade da pena, beneficiou de uma amnistia e agora quer regressar em grande na realização de espectáculos. ‘Riquinho’ garante que não é rico, mas sabe mexer-se bem e continua a considerar-se o maior empresário angolano.
Mal saiu da cadeia anunciou o recomeço das ‘Quartas tropicais’ e de trazer artistas norte-americanos…
Estamos a meditar. Estamos num período de crise agressiva que não sei se cairia bem trazermos artistas internacionais. Se concluirmos que vale a pena, fazemos, senão, faremos no período pós-eleitoral.
Já tinha fundos reservados para arrancar?
(Risos) Há um ditado que diz que a grande riqueza do homem não é o dinheiro, mas os seus feitos ou a sua marca. Mesmo tendo muita gente contra mim, devo ser das marcas mais fortes do nosso país (entre a Sonangol, Endiama, TAAG, etc.) e entre as novas marcas, a Casa Blanca está entre as cinco melhores. É respeitada no Brasil, EUA. Quem tira do Brasil 150, e dos EUA mais de 70 músicos consagrados, é respeitado em qualquer parte do mundo. Não poderia ter dificuldades em arrancar com qualquer projecto. Não reservei dinheiro nenhum, saí da cadeia com uma mão atrás e outra à frente. Esses projectos provam que não sou criminoso. Sou batalhador e um militante convicto e que tem muito para dar. Só não sou rico porque não sou gatuno. Nunca meti a mão nos cofres do Estado, nunca tive tráfico de influência. Sou das poucas pessoas nesse país que tem sono profundo. Não sou milionário, mas devo ser mais feliz que muitos milionários que não dormem, e que têm, quase todos, ‘rabos-de-palha’.
Qual é o segredo do sucesso?
A maioria dos jornais privados que vê na rua (os donos e ou editores) foram meus empregados, nomeadamente, semanários como Manchete, Liberdade, Verdade, República, Grandes Notícias, este até foi meu sócio, mas era mais empregado que sócio. Todos saíram do Continente. Agora, na promoção e realização de eventos, todos os promotores passaram pelo grupo Casarão: Yuri Simão foi meu director de marketing; Republicano foi relações públicas; Mota Lemos, produtor; Rey Weba, director artístico; Imana Matos, chefe de protocolo. Os maiores produtores de espectáculos foram meus trabalhadores. E outros foram colaboradores como José Pedro Benge e Afonso Quintas (radialistas). Passaram também assessores que hoje têm posições fortíssimas na sociedade, como Manuel Homem, Mariano de Almeida, Manuel Loth e muitos outros.
Eles reconhecem-no?
Não estou preocupado com isso.
Qual é o seu sonho?
O meu sonho é trazer o prémio Nobel da Paz e vou conseguir, da mesma maneira que consegui trazer as estrelas internacionais, levar uma caravana de 350 pessoas para o mundial da Alemanha, levar 250 pessoas para a Venezuela, da mesma forma que internacionalizei a música angolana, que levei mais de 50 artistas para o projecto ‘Força Angola’, em Portugal.
Quer trazer um dos premiados ou quer que alguém em Angola ganhe o Nobel?
Se alguém aqui precisa ganhar sou eu. Mereço. Nunca ganhei nenhum prémio neste país, excepto menções honrosas. O único prémio que tenho é de maior promotor de espectáculos de África, recebido em Libreville (Gabão), no ‘Afrovision’, em 2005. A Casa Blanca não está entre os melhores de África, está entre os melhores do mundo e a melhor e a maior de África.
Em que critério se baseia?
É só ver as produções ao longo de 2010 a 2013. Só nas ‘Quartas tropicais’ realizávamos por semana, uma edição, às vezes duas, durante dois anos. Quatro semanas por mês, multiplicando por 10 meses, resultam em 40 ou 50 galas por ano, e, ao longo dos três anos, são 120 ou 150 galas. Em cada uma, movimentávamos na ordem de 10 músicos. Estamos a falar em 1.200 ou 1.500 músicos, em cada edição gastávamos (ao câmbio da altura) entre 100 a 150 mil dólares. Durante três anos, foram cerca de 20 milhões de dólares.. Não há em África uma empresa que durante um ano trouxesse ao seu país 25 músicos estrangeiros. Trabalhámos com 250 músicos estrangeiros.
E problemas com ‘cachets’…
Quem está na chuva é para se molhar. Não existe músico que eu não tenha pago ‘cachet’. Houve histórias com Livity, Bonga e Maya Cool. Com o primeiro, negociámos três espectáculos, 125 mil dólares, mas pagámos 75 mil porque a meio do projecto cancelámos um espectáculo por falta de público. Bonga é o artista que recebeu o ‘cachet’ mais caro de todos os angolanos, foram 500 mil dólares, por uma turné. A dada altura veio fazer um contrato comigo e, em simultâneo, fez com outra companhia. Como é lógico, eu que paguei a passagem, a hospedagem, etc. não paguei mais o ‘cachet’ e com toda razão. O Maya Cool não chegou a cantar, logo não recebeu. Mas foi o artista que mais recebeu apoios meus, entre eles, patrocinei três álbuns.
Trabalha com outras empresas ou é patrocinado?
Aparecem patrocínios com muita dificuldade. Cansa-se mais em ir atrás do patrocínio do que fazer os projectos. Fala-se que sou dos mais apoiados, é uma autêntica mentira, poderei ser o empresário que mais beneficiou de financiamentos bancários. Não é apoio, é um empréstimo. Neste país, é tudo contrário. É crime ser pobre, não ter dinheiro, mas não é para quem, ilicitamente, por tráfico de influência, é milionário. Empresários que foram ministros, dirigentes hoje são milionários, de onde é que vem esse dinheiro se eu que trabalho, há 30 anos, a fazer espectáculos, a vender bilhetes, não sou? Não tenho inveja destes milionários, sinto nojo.
Como está a produção de espectáculos?
O ‘game’ está violento! Mas estamos preparados, aliás, não sei viver sem pressão, sou como Cuba. Há 30 anos que vivo em contrariedades: fiz obras no Cine Tropical, até agora não mo dão, não recebi o fundo de apoio do desporto, mas somos a empresa que mais inovou, promovemos jogos com classe, estádios cheios, organizámos o Afrobasket, e até hoje não nos pagam as nossas dívidas; CAN de Andebol, duas taças de clubes campeões, os maiores jogos do campeonato nacional de futebol. Na cultura, vemos aí uma série de ONG, associações que vão todos os meses buscar ao Estado um milhão de dólares.
Esses apoios nunca chegam até si?
Mas vão chegar!
O que teria como prioridade se fosse ministro da Cultura?
Se um prémio não dão… A primeira coisa que faria seria atribuir-me um prémio a mim mesmo.
CONDENAÇÃO
Foi condenado a quatro anos de prisão e a uma multa de 600 mil dólares. É inocente ou culpado?
Não faço comentários ao processo que ainda não teve o seu término. No máximo, que posso dizer é que sou inocente, não devo nada a ninguém, não tenho de pagar indemnização nenhuma, aliás, o próprio queixoso há muito fez uma carta ao tribunal a dizer que já tinha recebido adiantado e requereu, inclusive, a anulação do processo.
Não corresponde a verdade?
Só o tribunal e o juiz podem responder essa pergunta.
Não chegou a mover nenhum dólar para indemnizar?
Nem movi e nem vou mover, porque não devo nada a ninguém.
Qual é a sua relação com o ex-sócio?
Não conheço e nunca conheci nenhum ex-sócio.
Em que nível mantém o vínculo com o semanário ‘Continente’?
Sou sócio gerente, tenho 40 por cento. Pelos vistos, outros sócios não querem fazer gestão conjunta, querem ser donos, para isso têm de ter os 75 por cento (de acordo com a lei). Para que isso aconteça têm de comprar a mim 15 por cento ou os meus 40 e eu já disse qual é o preço: 10 milhões de dólares. Enquanto não acontecer, vou continuar a gerir. Tenho portas abertas para outros sócios, mas que venham também com a intenção de investir como investi: cerca de cinco milhões de dólares. Qualquer sócio terá de investir mais que isso, do contrário não estará a fazer nada. A sociedade deve-me cinco milhões de dólares. Quem comprar parte dessa sociedade tem de me pagar esse investimento. Os sócios, ao invés de comprarem a quota, compraram a minha cadeia.
Como era a convivência com os detidos e as autoridades na cadeia?
Passei lá bons momentos, fui muito bem tratado, fiz muitas amizades, trabalhei muito para a igreja católica. Nenhuma razão de queixas.
“MPLA somos todos nós”
O que lhe cativa no MPLA?
Só os animais políticos, camaleões é que mudam de partido, não sou animal político.
Estamos em fase de pré campanha eleitoral, não foi ainda convidado pelo seu partido?
Não preciso de ser convidado. Diz-se que o MPLA é de todos nós. Participei em três campanhas do partido sem nunca receber nenhum dólar e sem nunca ser convidado. Fiz pelo coração. Fiz o Bonga, que era da UNITA, vestir a camisa do MPLA e cantar no comício do M no Zango; Levei-o ao palácio para uma audiência com o Presidente da República. Nas ‘Quartas Tropicais’ promovemos artistas como Paulo Flores e Waldemar Bastos, que não são do M. Os artistas que mais resistência fazem ao MPLA já os pus a cantar de vermelho preto e amarelo e quem consegue fazer isso não é um cabo eleitoral, é um grande parceiro do partido.
Está disposto a fazer?
Faço campanha a favor do MPLA todos os dias
Perfil
Nascido em Luanda, a 27 de Janeiro de 1964, Henrique Miguel ‘Riquinho’ é formado em Electrotecnia Naval, em Cuba e tornou-se no primeiro-oficial da marinha em Angola. Nos anos de 1980, abandonou a Angonave e começou a dar as primeiras festas, que iriam culminar com o surgimento de uma discoteca em 1986. Começava assim a carreira na produção de eventos. É conhecido por ter inovado com as festas temáticas, como a ‘do short’ e a ‘do azul e branco”. Em 1990, funda a Casa Blanca. A partir daí, começou a criar novas empresas como Casa Car, Casa Lar, Casa Real, jornais e revistas, ficando famoso pela inclinação para assumir riscos.
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