sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Carnaval de Luanda faz-se nem que a festa seja paga às prestações

BPNGSÓ9DADES«»
Dificuldades financeiras para composição da alegoria, entre trajes, adereços e adornos, marcam os últimos ensaios dos grupos de Carnaval em Luanda, que se queixam de apoios insuficientes, que obrigam a pagar a festa em prestações. Com 40 anos de participação ativa nos desfiles oficiais do Carnaval, considerada maior festa popular angolana, o grupo "União 10 de dezembro", do bairro do Prenda, distrito urbano da Maianga, em Luanda, aprimora desde dezembro os ensaios, com o propósito de vencer o desfile central da principal classe de adultos.

presidente e comandante deste grupo, que venceu por quatro vezes o carnaval de Luanda, Pedro Garcia Vidal, contou à Lusa que os ensaios com vista ao desfile de 13 de Fevereiro decorrem à "medida do possível", com os apoios a serem "grande dor de cabeça".
"Estamos mesmo mal e espero que surja alguma coisa. Em termos de alegoria, pagamos já quase 50%, mas ainda falta mais dinheiro para comprar tecidos, que no mercado está muito caro", disse.
Durante mais uma noite ensaios, orientando o grupo infantil que deve desfilar a 10 de Fevereiro e ainda aprimorando os "toques do Semba/Varina" para a classe A de adultos, Pedro Garcia Vidal explica que precisa de "pelo menos" mais 1,2 milhões de kwanzas (4.600 euros) para "irem dançar" à marginal de Luanda.
"O normal é o grupo de adultos gastar quase 5.800.000 kwanzas [22.400 euros] para participar mais ou menos e a classe infantil quase 2.500.000 kwanzas [9.650 euros]", explicou.
Ainda segundo presidente do "União 10 de Dezembro", os actuais prémios atribuídos aos vencedores do Carnaval de Luanda são "inversamente proporcionais aos avultados gastos" que se fazem durante a fase de preparação.
"Não compensa, o prémio infantil é 1.000.000 de kwanzas [3.900 euros] e de adulto são 3.000.000 de kwanzas [11.600 euros]. Em suma, a gente gasta mais do que recebe", frisou, realçando que apesar de ter recebido já quase 2,8 milhões de kwanzas [10.800 euros] do Governo, como acontece com todos os grupos inscritos, o montante "não é suficiente para as despesas".
Este ano, observou, as autoridades "apenas deram dinheiro", sendo que o material, como tecidos que davam nos anos anteriores, não chegaram.
"Só a minha alegoria custa 1.200.000 kwanzas [4.600 euros] a alegoria das crianças custa 450.000 kwanzas [1.750 euros], estamos a fazer os pagamentos em prestações e ainda com muitas dívidas", acrescentou, num cenário que se vive em outros grupos carnavalescos da capital.
Apesar das dificuldades na fase de preparação, o também comandante do grupo, Pedro Garcia Vidal, garante que via lutar para dar a voltar, até porque o "lema do União 10 de Dezembro é vencer".
Fundado a 10 de Dezembro de 1978, o grupo do histórico bairro Prenda, em Luanda, conta actualmente com um total de 608 elementos entre crianças, jovens de adultos, que entre os dias 10, 11 e 13 de Fevereiro descem com folia à marginal de Luanda.
Entre os integrantes está Ana Filipe, de 63 anos, a mais antiga e actualmente rainha do União 10 de Dezembro, que também manifestou crença em arrebatar o troféu central, no desfile da classe A de adultos.
"Este ano vamos a marginal lutar para vencer o prémio, estamos a ensaiar bem, sem problemas e sem qualquer anormalidade até ao momento", disse, sublinhando mesmo que tal como nos anos anteriores vai à marginal da capital angolana" mostrar o melhor".
O papel de rainha, explicou, "é já uma missão habitual" que cumpre todos os anos: "É chegar, dançar e mostrar o nosso melhor", rematou.
"Acho que as pessoas deveriam valorizar mais o Carnaval, deveriam sensibilizar os empresários para o apoio a esta manifestação cultural e em contrapartida o Estado daria incentivos fiscais", apontou Pedro Garcia Vidal.

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