sábado, 17 de fevereiro de 2018

A sobrevivência das zungueiras diante da repressão

BPNGSÓ9DADES«»
Depois dos cidadãos escolherem os seus governantes nas urnas, surgem as corridas nas ruas da capital descapitalizada, transformadas em pistas pelos agentes da ordem repressiva que numa velocidade ilimitada espancam a mulher (zungueira) indefesa que tenta escapar da morte da fome.
 A tristeza voltou a se instalar em muitas famílias das zonas periféricas de Luanda, que no desespero da vida têm a venda ambulante como a única esperança para pôr água e pão à mesa, depois da interrupção de aproximadamente dois meses devido as eleições gerais de 24 de Agosto, ganhas pelos maioritários ou também “partido da situação”, como chamam alguns.
É no chão onde a mulher zungueira é atirada violentamente pelos agentes da ordem/repressiva e fiscais do GPL, e muitas vezes encontra o consolo entre lágrimas e gritos, quando retirado o negócio que também não é seu, onde contava ganhar mais uns quinhentos que serviria apenas para comprar carvão, um quilo de arroz e a famosa costeleta angolana (peixe lambula/sardinha) para contentar o estômago dos filhos inocentes e excluídos do sistema de ensino e contratados por congoleses, malianos, senegaleses e costa-marfinenses, para procurar cobre entre os amontoados de lixo a troco de 100 kzs.  
Como diz João Alves, no seu quintal (página do Facebook), “Angola é um país impróprio para cardíacos”. Pois é. Numa altura em que as empresas despedem em massa, o salário que é bom não cai, responsáveis de famílias olham entre as quatro paredes de casa, exercitando a mente, como pagar a renda e propina da escola dos filhos, e as famílias têm a venda ambulante como a escapatória para sobrevivência, surge o decreto do Governador Adriano proibindo a venda ambulante.
Senhor governador, já fez um estudo para saber quantos vendedores ambulantes existem? E quantos jovens ganham a vida nas ruas para não mergulhar na delinquência?
Não é que concorde com a venda ambulante, os que o fazem também não concordam, mas, a vida obriga-os arriscar nas ruas. Hoje, com o desemprego acentuado, muitos cidadãos, jovens, principalmente, criaram o seu meio de sustento, fazendo bolos e gelados caseiros, para distribuir à senhoras e até jovens, que lutam na vida honestamente.
Como estes jovens desempregados pertencentes a famílias humildes vão sustentar a sua formação e até mesmo a família?  
“A necessidade é maior que a moral”. 
O combate a venda ambulante não passa pela repressão (uma acção que viola os direitos fundamentais, à integridade moral e física, estatuída no artigo 31 nº 1 da CRA) ou proibição, passa pela criação de iguais oportunidades de emprego com melhores remunerações, bem como investir e facilitar o acesso à educação e habitação. 
Alguém pode dizer-me, eles, podem ganhar a vida dentro dos mercados. Temos mercados em zonas estratégicas com capacidade de acolher a maioria dos vendedores ambulantes?  Que condições oferecem? Será que queremos mais delinquência, prostituição e mendigos? 
Como dizia a minha avó, é “Maka Estado”.

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