Depois dos cidadãos escolherem os seus governantes nas urnas, surgem as corridas nas ruas da capital descapitalizada, transformadas em pistas pelos agentes da ordem repressiva que numa velocidade ilimitada espancam a mulher (zungueira) indefesa que tenta escapar da morte da fome.
A tristeza voltou a se instalar em muitas famílias das zonas periféricas de Luanda, que no desespero da vida têm a venda ambulante como a única esperança para pôr água e pão à mesa, depois da interrupção de aproximadamente dois meses devido as eleições gerais de 24 de Agosto, ganhas pelos maioritários ou também “partido da situação”, como chamam alguns.
É no chão onde a mulher zungueira é atirada violentamente pelos agentes da ordem/repressiva e fiscais do GPL, e muitas vezes encontra o consolo entre lágrimas e gritos, quando retirado o negócio que também não é seu, onde contava ganhar mais uns quinhentos que serviria apenas para comprar carvão, um quilo de arroz e a famosa costeleta angolana (peixe lambula/sardinha) para contentar o estômago dos filhos inocentes e excluídos do sistema de ensino e contratados por congoleses, malianos, senegaleses e costa-marfinenses, para procurar cobre entre os amontoados de lixo a troco de 100 kzs.
Como diz João Alves, no seu quintal (página do Facebook), “Angola é um país impróprio para cardíacos”. Pois é. Numa altura em que as empresas despedem em massa, o salário que é bom não cai, responsáveis de famílias olham entre as quatro paredes de casa, exercitando a mente, como pagar a renda e propina da escola dos filhos, e as famílias têm a venda ambulante como a escapatória para sobrevivência, surge o decreto do Governador Adriano proibindo a venda ambulante.
Senhor governador, já fez um estudo para saber quantos vendedores ambulantes existem? E quantos jovens ganham a vida nas ruas para não mergulhar na delinquência?
Não é que concorde com a venda ambulante, os que o fazem também não concordam, mas, a vida obriga-os arriscar nas ruas. Hoje, com o desemprego acentuado, muitos cidadãos, jovens, principalmente, criaram o seu meio de sustento, fazendo bolos e gelados caseiros, para distribuir à senhoras e até jovens, que lutam na vida honestamente.
Como estes jovens desempregados pertencentes a famílias humildes vão sustentar a sua formação e até mesmo a família?
“A necessidade é maior que a moral”.
O combate a venda ambulante não passa pela repressão (uma acção que viola os direitos fundamentais, à integridade moral e física, estatuída no artigo 31 nº 1 da CRA) ou proibição, passa pela criação de iguais oportunidades de emprego com melhores remunerações, bem como investir e facilitar o acesso à educação e habitação.
Alguém pode dizer-me, eles, podem ganhar a vida dentro dos mercados. Temos mercados em zonas estratégicas com capacidade de acolher a maioria dos vendedores ambulantes? Que condições oferecem? Será que queremos mais delinquência, prostituição e mendigos?
Como dizia a minha avó, é “Maka Estado”.
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