Multimilionário compra jornal por 500 milhões

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Um multimilionário da biotecnologia comprou ontem o jornal “Los Angeles Times” (LAT) por 500 milhões de dólares norte-americanos, acabando com uma relação conturbada do título com os seus proprietários baseados em Chicago.

Esta é a primeira vez, em 18 anos, que a propriedade do jornal é titulada por alguém da sua área de influência. O acordo entre o empresário Patrick Soon-Shiong, da área da medicina e de Los Angeles, e o grupo Tronc constitui a mais recente compra de um jornal a uma grande empresa por uma pessoa rica e com preocupações cívicas.

Com 65 anos, Patrick Soon-Shiong criou a sua fortuna desenvolvendo um medicamento para o cancro em 1991. Patrick Soon-Shiong já era um accionista de referência do Tronc, um dos homens mais ricos de Los Angeles e o médico mais rico dos Estados Unidos da América (EUA), pelos cálculos da revista Forbes, que lhe atribui activos no valor de 7,8 mil milhões de dólares.
O acordo inclui a compra do “The San Diego Union-Tribune” e outros títulos, além da assunção de responsabilidades do fundo de pensões, no montante de 90 milhões de dólares.
Patrick Soon-Shiong assume o controlo do “Los Angeles Times” num período de turbulência no jornal. O título acabou de substituir o seu principal editor, a terceira mudança deste tipo em seis meses, e o editor Ross Levinsohn tem estado suspenso, sem vencimento, depois de se saber que estava a ser objecto de dois processos judiciais por assédio sexual. O grupo Tronc disse ontem que Ross Levinsohn tinha sido ilibado de qualquer má prática.
Por outro lado, os jornalistas decidiram em Janeiro sindicalizar-se, pela primeira vez na história do “Los Angeles Times”, que já conta 136 anos. O grupo Tronc, que já se designou The Tribune Co., possui o “Chicago Tribune” e vários outros jornais norte-americanos, incluindo o “Baltimore Sun” e “New York Daily News”.

Divergências laborais

Os confrontos entre os trabalhadores do “Los Angeles Times” e os proprietários baseados em Chicago não demoraram muito, depois da aquisição do jornal da Costa Ocidental em 2000. 
Em Los Angeles, contestava-se o que se considerava ser uma série de más decisões tomadas a milhares de quilómetros em Chicago e o jornal passou por uma sucessão de directores e editores. Foi o caso de John Carroll, que conduziu o título a 13 prémios Pulitzer, mas resignou sob fortes pressões. O seu sucessor, Dean Baquet, saiu ao fim de 15 meses e é agora editor executivo no “The New York Times”.
Os jornalistas do “Los Angeles Times” ficaram também alarmados por recentes contratações para a redacção, que reportavam a chefes da parte comercial e não aos editores da redacção. Tradicionalmente, as áreas comercial e editorial de um jornal estão separadas, para manter a credibilidade jornalística.
Com a indústria da comunicação social lançada em grandes problemas pela Internet, o fundador da Amazon, Jeff Bezos, comprou o “The Washington Post” em 2013, por 2.250 milhões de dólares norte-americanos. No mesmo ano, o proprietário da equipa de basebol de Boston, os Red Sox, John Henry, comprou o “Boston Globe” por 70 milhões de dólares.
Patrick Soon-Shiong, que também possui uma posição minoritária na equipa de basquetebol Los Angeles Lakers, afirmou, durante uma entrevista ao “Los Angeles Times”, no ano passado, que estava insatisfeito com a forma como o título era gerido. “Estou preocupado que haja outras agendas, independentes das necessidades do jornal ou das obrigações fiduciárias para a viabilidade da organização”, disse. “O meu objectivo é tentar a preservação da integridade e viabilidade do jornal”, acrescentou.
Um analista veterano do sector da comunicação social, Ken Doctor, considerou que o regresso a um proprietário local vai restaurar o orgulho do jornal “Los Angeles Times”.
A questão é saber se o novo proprietário vai fazer mais do que parar os cortes reinvestindo, como Jeff Bezos e John Henry fizeram nos seus jornais, e colocar o “Los Angeles Times” num novo rumo.