A estrada está já reabilitada e asfaltada. Nesta condição, a via melhorou a mobilidade rodoviária e mudou o sentido da vida comercial de quem vive à volta.
A reabertura da denominada "Rua da Ana Paula”, além de ser um demonstrativo de que se pode, quando se quer fazer de facto, representa um virar de página às actividades lucrativas locais.
São calculadamente quatro mil metros de extensão que sai do "Simon Kimbangu” e vai ligar à Rotunda do Calemba II, facilitando inclusive os moradores da Cidade do Kilamba. As lojas, farmácias, recauchutagens, lubrificantes, cantinas, lanchonetes e até algumas "casas de música congolesa”, que antes fechavam ainda em plena luz do dia, hoje, com a rua asfaltada, estendem os seus serviços um pouco para além das 20 horas.
Antes do trabalho de "lajeamento”, a circulação de viaturas demorava cerca de 40 minutos. Hoje, estas fazem menos de 10, como confirmou um automobilista que reside no bairro do "Nandó” e que, na pior e agora na melhor situação, usa este troço com o novo tapete. Um trabalho de asfaltagem e reabilitação que abrangeu também a estrada da rotunda do CalembaII a Luanda Sul. Há pouco tempo, muito debilitada. Com mil e um buracos, fazendo lembrar uma linha de guerra golpeada por trincheiras. As crateras anunciavam o nível de intervenção exigida.
Aliás, uma via muito reportada na ocasião pela imprensa e pelo então governador de Luanda, Luther Rescova, ao Presidente da República na sua agenda de visita à Capital. A estrada depois foi alvo de umas "benfeitorias necessárias e úteis”.
Hoje faz parte das vias recuperadas em Luanda a associar os mais de 100 quilómetros de estradas secundárias e terciárias adjucadas para intervenção, obras que ainda não abrangeram o troço que, da Via Expresso, dá acesso ao bairro "Mundial”, literalmente sem norte e condições de mobilidade.
Como quando não se tem cão caça-se com gato, quem o usa, todos os dias, assiste impávido e sereno a sua viatura a desfazer-se aos pedaços. Pior ainda acontece em tempo das enxurradas. A "divisão administrativa”parece ganhar outra largura com o surgimento de "ilhas isoladas” do resto da cidade distintamente urbanizada, qual é a massa de água e lama que invadem e delimitam fronteiras.
A estrada que conduz ao Mundial é bastante poeirenta. A poeira ofusca até as casas pintadas de azul. Um manifesto atentado à saúde dos seus moradores. Uma qualidade de vida inexistente, uma clara ofensa a dignidade da pessoa humana, que deve merecer uma protecção geral do Estado, à luz da Constituição da República. Tira-se a possibilidade de um "bem morar” e de uma vida social e económica com algum conforto. O bairro, modéstia à parte,é de alto consumo.
Os mercados no "Mundial” despertam muito cedo e é também de manhã que as vendedoras se precipitam para outros mercados fornecedores para apetrechar os seus.
As carrinhas passam abarrotadas e às 10 horas regressam para montar as suas barracas com produto diverso. Uma longa metragem que parece interminável, pois a circulação de viaturas naquelas estradas, picadas, é ininterrupta. A produção de poeira também.
Há urgência em evitar o pior relativamente às pessoas que aí residem. Claro que quem determina deve criar uma agenda de trabalho que abra as portas do bem-estar social para estes bairros de expansão. Desde o início da Rua da Toyota ao "Mundial” devem ser 7 mil metros de extensão de pavimento. É possível.
O mercado vende desde peças de viaturas, eletrodomésticos e produtos do campo. Acolhe hoje inúmeras famílias que lá adquiriram terrenos e construíram a sua casa. Umas mais acabadas e vistosas que as outras. Congrega uma mescla de famílias, estas oriundas maioritariamente do Sul do país.
A esta zona do Benfica falta tirar o "zoom” para se poder observar flagrantemente que tudo vai mal. O desenvolvimento receia lá se aproximar, talvez a julgar pela indigência. A poeira afugenta tudo e todos. Não há água canalizada, não há tv a cabo. A luz do sistema pré-pago é o que resta ao bairro e arredores para tirar a barriga da miséria.
Os comerciantes alegam querer fazer mais em prol desta zona, mas o incentivo vem a passos de camaleão. Por isso o bairro tem tudo para erguer uma bandeira branca e jogar p’ro ar pombos correios para anunciar a existência de uma Zona ainda Verde, sedenta de privilégios e que se precipita em catadupa para a exasperação.
Entretanto, a mesma sorte madrasta não teve a "Ana Paula”. A estrada "acinzentada”fez renascer a vida comercial de Mavinga Didier, proprietário de uma lubrificante desde 2005. "O negócio cresceu”.
Contou que antes, na vida e via de terra batida, tinha lucro diário de 3 a 4 mil kwanzas, agora chega a facturar até 20 mil por dia. "Uma boa estrada ajuda muito”. Emocionado, enaltece o movimento de viaturas de toda cilindrada. "Os do Kilamba passam agora aqui”, gabou-se.
Houve quem parasse para comprar algo na rua. Uma cerveja, um frangrité ou ginguba torrada. Nem o sol que obrigava a um chapéu chinês matava a sofreguice de apreciar macaiabo com bastante cebola e bem apimentado.
A sua casa de venda tem dois funcionários. Um deles é Cardoso Mambuta, responsável pela recauchutagem. Enquanto Josué André, 20 anos, cuida da oficina. Didier assume que teve de abrir mais estes dois serviços, não só para dar emprego a duas pessoas que necessitavam, como porque é "preciso saber aproveitar a graça de Deus”.
Mafuíla Mavinga, nasceu em 1973. Reparava uma máquina de soldar, mas o seu "negócio” também se estende à recuperação de fogão a gás e rebobinagem de motores eléctricos.
Sete pessoas apressavam-se na conclusão do trabalho, pois segundo Mafuíla cada um, no fim do dia, sai com 6 a 7 mil kwanzas, "o que não acontecia no tempo da chuva quando isto ficava cheio de água e com muita lama”, rematou.
"Estamos aqui desde 1994. Isto era tudo, menos estrada”, caracterizava ironicamente António Pedro, de 47 anos. Apesar de parecer próximo, "era difícil chegar ao Calemba II”. Ele realçava as vantagens de se ter uma via asfaltada. Com ele estava Fernando Ngondé, 50 anos. Dirigiu-se para nós para perguntar o porquê não se asfaltavam mais estradas nos bairros?
É comerciante e exibe entre aspas as credenciais, digamos assim, de bom vendedor. Cerveja e refrigerante definem a sua sobrevivência e rendimento familiar. Tem esposa e três filhos. Fala de como cresceu também as rendas de casas na rua da "Ana Paula”. "O aluguer aqui não demora”, juntou.
Ao lado da casa do comerciante, está um posto de combustível, enquanto a cisterna enchia o tanque subterrâneo para continuar a abastecer as viaturas, aproveitámos para abordar o frentista em serviço. Orlando João é trabalhador há sete anos. "Como podem ver, precisamos de reabastecimento regular. A procura tornou-se alta”.
Por dia, abastecem entre 40 a 50 viaturas. Antes, não passavam das 20. Hoje trabalham até às 21 e a facturação subiu. À noite, a "bomba” tem iluminação. Na rua, não.Os moradores confirmaram que os postes só acenderam no dia da inauguração e levaram de volta o gerador-fornecedor.
Leonardo Baptista e Baptista Gunga, dois jovens estacionaram o "kupapata” para vender água ao empreendimento e casa familiar de Nádia Mena. Gunga contou que os dois têm de acordar às 5 horas da manhã para fazerem 7 viagens até às 16 horas. 12 mil é o rendimento deles, dos quais 6 têm de entregar ao dono da motorizada-cisterna.
As farmácias, bares e lanchonetes e pequenos negócios como venda de pincho, cabrité e chouriço assado são observados e aguçam o apetite não só dos transeuntes. Para não falar dos mercados que ganharam mais fôlegos e estão a "pipocar”, com o aumento da procura, como são os do"Sinhá Moça”, "Praça Nova”, "Kimbangu” e "Calemba II”.
Júlio Pacheco, outro comerciante e especialista em números, pois nos confidenciou ser matemático, arriscou mesmo em dizer que a rua asfaltada possibilitou mais geração de empregos. Falou em cerca de 50 pessoas, entre moradores e não só e estimou igualmente que a facturação por dia deve estar em torno dos 800 mil kwanzas.
Números que precisam de reconfirmação, com certeza. Mas, quem lá esteve durante 4h13 e registou tudo, acaba por ter pouca margem para pôr em causa a estimativa de Pacheco.A ser verdade, lá está a dimensão económica e o estoicismo de uma "street” que se valorizou depois da sua requalificação.
São calculadamente quatro mil metros de extensão que sai do "Simon Kimbangu” e vai ligar à Rotunda do Calemba II, facilitando inclusive os moradores da Cidade do Kilamba. As lojas, farmácias, recauchutagens, lubrificantes, cantinas, lanchonetes e até algumas "casas de música congolesa”, que antes fechavam ainda em plena luz do dia, hoje, com a rua asfaltada, estendem os seus serviços um pouco para além das 20 horas.
Antes do trabalho de "lajeamento”, a circulação de viaturas demorava cerca de 40 minutos. Hoje, estas fazem menos de 10, como confirmou um automobilista que reside no bairro do "Nandó” e que, na pior e agora na melhor situação, usa este troço com o novo tapete. Um trabalho de asfaltagem e reabilitação que abrangeu também a estrada da rotunda do CalembaII a Luanda Sul. Há pouco tempo, muito debilitada. Com mil e um buracos, fazendo lembrar uma linha de guerra golpeada por trincheiras. As crateras anunciavam o nível de intervenção exigida.
Aliás, uma via muito reportada na ocasião pela imprensa e pelo então governador de Luanda, Luther Rescova, ao Presidente da República na sua agenda de visita à Capital. A estrada depois foi alvo de umas "benfeitorias necessárias e úteis”.
Hoje faz parte das vias recuperadas em Luanda a associar os mais de 100 quilómetros de estradas secundárias e terciárias adjucadas para intervenção, obras que ainda não abrangeram o troço que, da Via Expresso, dá acesso ao bairro "Mundial”, literalmente sem norte e condições de mobilidade.
Como quando não se tem cão caça-se com gato, quem o usa, todos os dias, assiste impávido e sereno a sua viatura a desfazer-se aos pedaços. Pior ainda acontece em tempo das enxurradas. A "divisão administrativa”parece ganhar outra largura com o surgimento de "ilhas isoladas” do resto da cidade distintamente urbanizada, qual é a massa de água e lama que invadem e delimitam fronteiras.
A estrada que conduz ao Mundial é bastante poeirenta. A poeira ofusca até as casas pintadas de azul. Um manifesto atentado à saúde dos seus moradores. Uma qualidade de vida inexistente, uma clara ofensa a dignidade da pessoa humana, que deve merecer uma protecção geral do Estado, à luz da Constituição da República. Tira-se a possibilidade de um "bem morar” e de uma vida social e económica com algum conforto. O bairro, modéstia à parte,é de alto consumo.
Os mercados no "Mundial” despertam muito cedo e é também de manhã que as vendedoras se precipitam para outros mercados fornecedores para apetrechar os seus.
As carrinhas passam abarrotadas e às 10 horas regressam para montar as suas barracas com produto diverso. Uma longa metragem que parece interminável, pois a circulação de viaturas naquelas estradas, picadas, é ininterrupta. A produção de poeira também.
Há urgência em evitar o pior relativamente às pessoas que aí residem. Claro que quem determina deve criar uma agenda de trabalho que abra as portas do bem-estar social para estes bairros de expansão. Desde o início da Rua da Toyota ao "Mundial” devem ser 7 mil metros de extensão de pavimento. É possível.
O mercado vende desde peças de viaturas, eletrodomésticos e produtos do campo. Acolhe hoje inúmeras famílias que lá adquiriram terrenos e construíram a sua casa. Umas mais acabadas e vistosas que as outras. Congrega uma mescla de famílias, estas oriundas maioritariamente do Sul do país.
A esta zona do Benfica falta tirar o "zoom” para se poder observar flagrantemente que tudo vai mal. O desenvolvimento receia lá se aproximar, talvez a julgar pela indigência. A poeira afugenta tudo e todos. Não há água canalizada, não há tv a cabo. A luz do sistema pré-pago é o que resta ao bairro e arredores para tirar a barriga da miséria.
Os comerciantes alegam querer fazer mais em prol desta zona, mas o incentivo vem a passos de camaleão. Por isso o bairro tem tudo para erguer uma bandeira branca e jogar p’ro ar pombos correios para anunciar a existência de uma Zona ainda Verde, sedenta de privilégios e que se precipita em catadupa para a exasperação.
Entretanto, a mesma sorte madrasta não teve a "Ana Paula”. A estrada "acinzentada”fez renascer a vida comercial de Mavinga Didier, proprietário de uma lubrificante desde 2005. "O negócio cresceu”.
Contou que antes, na vida e via de terra batida, tinha lucro diário de 3 a 4 mil kwanzas, agora chega a facturar até 20 mil por dia. "Uma boa estrada ajuda muito”. Emocionado, enaltece o movimento de viaturas de toda cilindrada. "Os do Kilamba passam agora aqui”, gabou-se.
Houve quem parasse para comprar algo na rua. Uma cerveja, um frangrité ou ginguba torrada. Nem o sol que obrigava a um chapéu chinês matava a sofreguice de apreciar macaiabo com bastante cebola e bem apimentado.
A sua casa de venda tem dois funcionários. Um deles é Cardoso Mambuta, responsável pela recauchutagem. Enquanto Josué André, 20 anos, cuida da oficina. Didier assume que teve de abrir mais estes dois serviços, não só para dar emprego a duas pessoas que necessitavam, como porque é "preciso saber aproveitar a graça de Deus”.
Mafuíla Mavinga, nasceu em 1973. Reparava uma máquina de soldar, mas o seu "negócio” também se estende à recuperação de fogão a gás e rebobinagem de motores eléctricos.
Sete pessoas apressavam-se na conclusão do trabalho, pois segundo Mafuíla cada um, no fim do dia, sai com 6 a 7 mil kwanzas, "o que não acontecia no tempo da chuva quando isto ficava cheio de água e com muita lama”, rematou.
"Estamos aqui desde 1994. Isto era tudo, menos estrada”, caracterizava ironicamente António Pedro, de 47 anos. Apesar de parecer próximo, "era difícil chegar ao Calemba II”. Ele realçava as vantagens de se ter uma via asfaltada. Com ele estava Fernando Ngondé, 50 anos. Dirigiu-se para nós para perguntar o porquê não se asfaltavam mais estradas nos bairros?
É comerciante e exibe entre aspas as credenciais, digamos assim, de bom vendedor. Cerveja e refrigerante definem a sua sobrevivência e rendimento familiar. Tem esposa e três filhos. Fala de como cresceu também as rendas de casas na rua da "Ana Paula”. "O aluguer aqui não demora”, juntou.
Ao lado da casa do comerciante, está um posto de combustível, enquanto a cisterna enchia o tanque subterrâneo para continuar a abastecer as viaturas, aproveitámos para abordar o frentista em serviço. Orlando João é trabalhador há sete anos. "Como podem ver, precisamos de reabastecimento regular. A procura tornou-se alta”.
Por dia, abastecem entre 40 a 50 viaturas. Antes, não passavam das 20. Hoje trabalham até às 21 e a facturação subiu. À noite, a "bomba” tem iluminação. Na rua, não.Os moradores confirmaram que os postes só acenderam no dia da inauguração e levaram de volta o gerador-fornecedor.
Leonardo Baptista e Baptista Gunga, dois jovens estacionaram o "kupapata” para vender água ao empreendimento e casa familiar de Nádia Mena. Gunga contou que os dois têm de acordar às 5 horas da manhã para fazerem 7 viagens até às 16 horas. 12 mil é o rendimento deles, dos quais 6 têm de entregar ao dono da motorizada-cisterna.
As farmácias, bares e lanchonetes e pequenos negócios como venda de pincho, cabrité e chouriço assado são observados e aguçam o apetite não só dos transeuntes. Para não falar dos mercados que ganharam mais fôlegos e estão a "pipocar”, com o aumento da procura, como são os do"Sinhá Moça”, "Praça Nova”, "Kimbangu” e "Calemba II”.
Júlio Pacheco, outro comerciante e especialista em números, pois nos confidenciou ser matemático, arriscou mesmo em dizer que a rua asfaltada possibilitou mais geração de empregos. Falou em cerca de 50 pessoas, entre moradores e não só e estimou igualmente que a facturação por dia deve estar em torno dos 800 mil kwanzas.
Números que precisam de reconfirmação, com certeza. Mas, quem lá esteve durante 4h13 e registou tudo, acaba por ter pouca margem para pôr em causa a estimativa de Pacheco.A ser verdade, lá está a dimensão económica e o estoicismo de uma "street” que se valorizou depois da sua requalificação.
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