O leite materno é o alimento ideal para o recém-nascido. Esse líquido, em todas as espécies de mamíferos, contém uma mistura nutricional perfeita para o desenvolvimento da cria, fornecendo vitaminas, minerais, proteínas, gorduras, anticorpos e diversos outros nutrientes perfeitamente balanceados. Infelizmente, na nossa sociedade, a amamentação, em uma visão global, não é levada tão a sério como deveria, onde as mães recorrem com frequência às formulações de leite artificialmente preparadas. O mais triste é que, em grande parte das vezes, esse desprezo com a amamentação é devido, unicamente, à questões de comodidade, falta de paciência e até certas pressões sociais. São poucos os problemas de saúde que realmente proíbem a mulher de amamentar, mas mesmo assim as mães estão abandonando esse hábito em peso. Nosso corpo evoluiu milhões e milhões de anos com o único objetivo de gerar descendentes saudáveis e não ia vacilar justamente na produção do leite. Nossa cultura o faz.
Os benefícios da amamentação são muitos, e se estendem tanto para os bebês quanto para as mães. Para começar temos a liberação do colostro, o qual é o primeiro leite formado durante a gravidez e dura até um pouco depois do nascimento da criança. Ele é bem grosso e muito rico em nutrientes, além de possuir diversos anticorpos indispensáveis à boa saúde da criança. Após 3 a 5 dias, o colostro começa a se transformar no leite tradicional da amamentação, o qual é branco e possui as proporções perfeitas entre gordura, água, vitaminas, minerais, açúcares e proteínas. O leite materno, sem dúvida, é um alimento perfeito, além de ser único em promover diversos benefícios extras que não são alcançados por nenhum outro alimento destinado ao recém-nascido, como o fortalecimento máximo do sistema imunológico do bebê. Pesquisas sugerem que a amamentação pode também diminuir o risco, na criança, de:
1. Asma;
2. Leucemia infantil;
3. Obesidade infantil;
4. Infecções;
5. Eczema;
6. Diarreia e vômito;
7. Doenças respiratórias;
8. Síndrome da morte infantil súbita (SIDS);
9. Doenças gastrointestinais;
10.Diabetes tipo 2;
11. Alergias futuras;
12. Doenças cardíacas;
Para as mães os benefícios podem englobar menor risco de desenvolver diabetes tipo 2, certos tipos de câncer de seios, cânceres de ovários, doenças cardiovasculares e artrite reumatoide. Os hormônios liberados durante a amamentação, como a oxitocina, otimizam bastante o laço entre mãe e bebê (gerando benefícios à saúde de ambos), e pode contribuir para diminuir os sintomas da depressão pós-parto. Estudos também mostram indícios de que as mulheres conseguem perder o excesso de gordura corporal acumulada na gravidez mais facilmente se prolongarem o tempo de amamentação o máximo possível (a própria produção do leite demanda um custo energético bem alto, ajudando a queimar as gorduras extras).
Somando-se a isso, pesquisas mais recentes conseguiram isolar diversas bactérias provavelmente probióticas do leite materno. Essas bactérias parecem ser muito importantes para construir uma flora bacteriana saudável no corpo da criança, especialmente no intestino. Mas será que encontramos esses benefícios nas tão glorificadas fórmulas? A resposta é um óbvio não. Se as pesquisas ainda estão descobrindo diversos segredos no leite materno, isso significa que as fórmulas estão longe de possuírem o seu poder nutricional. Esses produtos são apenas necessários em caso de doenças específicas ou outras situações que realmente impossibilitem o aleitamento materno.
Nunca opte pelas fórmulas quando a amamentação natural é possível de ser feita |
A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que a mãe amamente o seu filho, de forma exclusiva, até os seis meses de idade. A partir dessa idade, a amamentação deveria continuar até 1 ou 2 anos de idade, combinada, ou não, com outros alimentos. Mas os dados globais mostram uma realidade bem diferente da ideal. Apenas 38% das mulheres no mundo amamentam seus filhos, de forma exclusiva, até os seis meses de idade, e isso pegando uma perspectiva geral. Nos EUA, por exemplo, 75% das mães começam amamentando de forma exclusiva e apenas 13% continuam até os 6 meses de idade. No Reino Unido, apenas 0,5% das mães continuam amamentando seus filhos até 1 ano de idade. Aqui no Brasil, cerca de 56% das mães continuam amamentando até 1 ano de idade, número baixo mas razoável quando comparado com as médias globais. O nível de riqueza e desenvolvimento de um país afetam bastante os índices, onde nas nações subdesenvolvidas as mães costumam amamentar bem mais seus filhos, por causa dos altos preços das formulações. Senegal, por exemplo, possui 99% das suas mães amamentando os bebês até 1 ano de idade. As agências de saúde estimam que cerca de 820 mil mortes de crianças com menos de 5 anos de idade deixariam de ocorrer todos os anos se a amamentação fosse algo melhor disseminado e praticada no mundo.
Mesmo com os motivos que levam uma mãe a abandonar rapidamente a amamentação do seu bebê serem muitas vezes banais, quando fazemos um balanço dos riscos/benefícios, existe uma grande parcela de culpa no modo em que as formulações são propagandeadas pela população geral e até por muitos profissionais de saúde irresponsáveis. Com os diversos avanços tecnológicos conquistados até a data atual, as pessoas tendem a pensar que as formulações de leite artificial são tão boas ou até melhores que o leite materno, sendo supostamente ridículo perder tempo amamentando o filho de forma natural. E, claro, as empresas que fabricam esses produtos ajudam a disseminar esses boatos pelos quatro cantos do mundo para aumentar as receitas. Como eu disse acima, o leite materno possui diversas qualidades únicas que talvez nunca serão atingidas pelas formulações (pelo menos não tão cedo). Comparar os dois modos de alimentação é que é ridículo.
E o mais triste é que muitas mulheres querem amamentar bem o seu filho, mas pressões sociais acabam colocando um impedimento a isso. Existe também aquelas que apenas não tem paciência mesmo. Mas existem casos em que os motivos são mais justificados, porém não de todo certos. Entre os principais fatores que desestimulam a mãe a abandonar o aleitamento materno, exacerbados pela crença de que as fórmulas cumprem bem esse trabalho, estão:
1. Questões trabalhistas: essa é a mais comum explicação das mães que desistem de amamentar o filho, já que o trabalho acaba exigindo um tempo integral do qual o bebê não ´respeita´. Para tentar humanizar esse sistema, grande parte das empresas garante a licença maternidade, algo obrigado por lei. Aqui no Brasil, ela possui um mínimo de 120 dias até um máximo de 180 dias. O problema é que, depois desse tempo, a mãe tende a abandonar completamente a amamentação, e muitas vezes não garante nem mesmo os 6 meses mínimos recomendados pelas agências de saúde. Maior incentivo fiscal seria necessário para compensar as empresas que mantêm as funcionárias mães mais tempo afastadas. Isso, claro, é algo bem difícil, especialmente em países problemáticos como o Brasil;
2. Muitas mães também, na busca pelo emagrecimento, abandonam o aleitamento materno para se dedicarem a dietas extremistas de perda de peso, já que a amamentação exige uma mínima boa alimentação (apesar de que, mesmo com uma dieta nutricionalmente pobre, o leite materno sempre tende a ser de excelente qualidade). Além desses métodos de perdas milagrosas de peso não funcionarem, a mãe pode estar prejudicando o seu bebê sem necessidade. E isso sem contar que o estímulo na produção de leite pelas mamas requer um aporte energético grande do corpo, ajudando no emagrecimento;
3. Alcoolismo e vício em drogas pode ser um fator decisivo de muitas mães para não fornecerem o seu leite para a criança, devido ao fato de que diversas dessas substâncias passam para a mesma através do aleitamento. Algumas mães também deixam de amamentar o filho por alguns períodos para poder beber ou usar entorpecentes sem se preocupar em prejudicá-lo. O uso de certos tipos de medicamentos também impõem o mesmo problema. Neste último caso, converse com o seu médico para saber se esse problema pode ser contornado;
4. Mães portadoras de doenças como a Aids têm medo de passar a doença para o bebê através do aleitamento. Se a mãe estiver usando medicamentos específicos para suprimir a doença, os riscos são bem pequenos do bebê contrair a enfermidade, apesar deles existirem. As agências de saúde aconselham países subdesenvolvidos a incentivarem as mães a amamentarem os seus filhos independente se estão ou não contaminadas com a Aids, por exemplo, porque os benefícios compensam os riscos, especialmente em locais onde o acesso à boas fórmulas de leite é limitado;
5. Quadros de infecção comuns como a mastite e dor durante o aleitamento materno é outra causa comum para as mães largarem a prática. No primeiro caso, até cerca de 10% das grávidas desenvolvem a mastite, a qual é uma infecção causada, normalmente, pela invasão das bactérias da pele para dentro do tecido mamário, através de feridas no bico do seio. As bactérias encontram um local ideal para se proliferarem apenas se existir leite retido nos canais do tecido mamário, o qual se acumula devido a um esvaziamento incompleto da mama após a amamentação do bebê. No segundo caso, algumas mulheres podem sentir dores devido à mastigação do bebê na auréola e bico do seio. Em ambas as situações, melhores posicionamentos e técnicas de amamentação geralmente resolvem os problemas. Quanto à possíveis mastites, o quadro tende a melhorar em questão de dias, não sendo nada grave na maior parte das vezes;
6. Uma outra causa comum para se dar uma maior preferência ao uso das fórmulas é a vergonha em público de alimentar o bebê. Como grande parte da sociedade tende a sexualizar de maneira perturbadora os seios, deixá-los expostos em público - mesmo que o mínimo - é motivo de crítica e estranhamento de muitos. A mulher se sente envergonhada e acaba alimentando o bebê com fórmulas quando precisa estar fora de casa. E o mais revoltante é que o papel biológico dos seios é a amamentação. Se erotizamos esse órgão, a culpa é do bebê? Aqui vai o meu conselho: apenas não dê a mínima para o que os outros podem achar ou não. E para lugares que proíbem, por lei, o aleitamento materno por cunho puramente machista (porque eu não vejo outro motivo a não ser esse), apenas mandem todos para o raio que os parta e sinta-se livre para amamentar o seu filho. Quero ver alguém te prender ou coagir por estar amamentando o seu bebê. Quando aspectos culturais passam a desrespeitar os direitos humanos eles precisam ser combatidos com paixão;
7. Comodidade e falta de paciência também é outro grande motivo, especialmente se a mãe procura evitar todos os problemas acima descritos. Essa causa assume ainda mais força quando a mãe vem de uma gravidez não planejada, onde o filho é mais visto como um fardo do que como um ente querido.
Não sinta vergonha em amamentar seu bebê em público e ignore as infundadas reprovações alheias |
As fórmulas, além de não possuírem o mesmo poder nutricional do leite materno, podem prejudicar bastante caso feitas de forma incorreta ou com pouca higiene. Enquanto o leite está sendo produzido de forma perfeita nos seios, inclusive na temperatura certa, o modo artificial pode vir cheio de erros. O que mais preocupa é que vários hospitais possuem políticas que permitem o uso descontrolado dessas preparações, onde os mesmos estão sendo dados até mesmo dentro de poucos dias de vida do recém-nascido em detrimento do leite materno. E ainda temos as campanhas comerciais pesadas desses produtos, algo que estimula as mães a buscarem essa alternativa suspeita com maior frequência. Excetuando-se casos específicos onde as fórmulas são obrigatórias, todas as mães deveriam amamentar o seu filho apenas com o leite materno até, pelo menos, os 6 meses de idade.
Algumas mães acabam por optar, também, por bombear o leite dos seios e guardarem o mesmo para que outros amamentem o bebê na sua ausência. Só é preciso tomar cuidado com o armazenamento leite bombeado, sempre buscando orientações médicas de segurança. Outra alternativa, dessa vez mais perigosa, é o uso de leite doado por terceiras. Nunca adquira leite dessa forma a não ser através de bancos oficiais e regulamentados de doação de leite, e sempre sob o rígido acompanhamento médico. Comprar leite doado pela internet ou pedir de conhecidos sem nenhum tipo de fiscalização das autoridades competentes é muito arriscado. O grande perigo é a pessoa doadora ´clandestina´ carregar alguma doença passível de transmissão pelo leite ou estar usando medicamentos ou outras drogas - as quais irão também contaminar o leite produzido, como já mencionado -, além de não se ter garantia da forma como o leite foi retirado e armazenado. Nenhuma das dessas duas formas é a ideal, sendo necessário muito cuidado ao praticá-las.
No final, é válido também dizer que o leite materno de qualidade não é produzido como mágica pelo corpo. A mãe precisa estar cuidando da sua saúde e, idealmente, se alimentando bem, selecionando melhor os alimentos, evitando o excesso de bebidas cafeinadas (a cafeína em excesso passa para o leite e pode ser prejudicial ao bebê), alimentos ´porcaria´ (como a maior parte dos industrializados) e fugir do uso de drogas (álcool, cigarro, etc.). Além disso, incluir bastante frutas e outros vegetais é extremamente importante. As bactérias probióticas no leite materno podem ter origem do intestino das mães, e um bom estoque de fibras solúveis e insolúveis podem melhorar a flora bacteriana na região. Evite fazer dietas muito restritivas no período de amamentação. Inclua boas quantidades de água, sucos naturais, frutas, legumes, carnes, verduras, sementes, laticínios, grãos e cereais. É preciso evitar ao máximo alimentos muito industrializados e pouco nutritivos. Sempre procure a ajuda de profissionais sérios da área e evitem seguir conselhos suspeitos.
Observação: Alguns bebês, mesmo obtendo o leite natural da mãe, podem precisar de uma suplementação de vitamina D para ajudar o corpo a se desenvolver melhor. A vitamina D é sintetizada na pele através da radiação ultravioleta, a qual é obtida através do Sol. Assim, essas deficiências são devidas à não exposição da mãe à radiação solar, sendo que, consequentemente, o leite produzido terá baixa concentração dessa vitamina. Outras fontes menores de vitamina D são o óleo de peixe, gema de ovo e leite fortificado. Mas um curto período de tempo sob o Sol já resolveria. E não precisa ser o corpo todo, apenas alguma parte da pele do corpo. Com as costas de uma mão sob o Sol durante 15 minutos já é o suficiente para conseguir toda a vitamina D necessária ao corpo para o dia (uma pele mais clara; quanto mais escura, maior a necessidade de exposição). Caso a exposição cutânea seja maior, menor ainda será o tempo.
PERGUNTAS FREQUENTES
1. Após o parto, para emagrecer, a gestante deve fazer dieta?
Como já foi dito, o foco após o parto precisa ser voltado para a amamentação e cuidados gerais com o recém-nascido. Uso de programas irresponsáveis e extremistas de emagrecimento, e uso de medicamentos para a perda rápida de peso apenas irão prejudicar a mãe e o bebê. Siga apenas uma alimentação saudável, e confie na produção de leite: quanto mais leite produzido para o bebê, mais calorias gastas pela mãe para produzi-lo. Não exagerando na alimentação, praticando exercícios físicos regulares e deixando o leite ser livremente produzido irão ajudar muito no emagrecimento. Deixe para fazer dietas mais restritivas (apesar das mesmas não serem recomendadas) para depois.
2. Para ficarem bem alimentados, os bebês devem mamar de 3 em 3 horas?
Não siga horários específicos para a amamentação. Apenas se oriente pelo desejo de alimentação do bebê: quando ele quiser mamar, deixe-o mamar.
3. A mãe deve sempre oferecer os dois seios na mesma mamada?
Não. O recomendado é que se ofereça uma mama até que esta se esvazie. Se o bebê quiser mamar mais, ofereça a outra mama. Se ele não quiser, não tem problema, ofereça a outra mama na próxima mamada. Isso porque durante a amamentação, o primeiro leite que sai é o leite anterior, rico em água e importante para a imunidade do bebê. Mata a sede, porém, sozinho, esse leite não supre as necessidades da criança. Já o leite posterior, que vem no final da mamada, é rico em proteína e gordura. É o leite posterior que mata a fome e é essencial para o ganho de peso do bebê. O recomendado é que o bebê mame pelo menos 15 minutos na mesma mama até atingir o leite posterior. Esse tempo, no entanto, só poderá ser avaliado adequadamente por um profissional de saúde especializado. Se o bebê só mamar um pouco em uma mama e mudar para a outra, ele estará consumindo somente o leite anterior e não ficará bem alimentado.
4. Amamentar dói?
Não, o ato de amamentar não deveria ser acompanhado de dor. Se isso ocorre, é porque algo deve estar de errado, como também já foi mencionado neste artigo. Procure um profissional de saúde da área para ver o que está ocorrendo.
5. Nos primeiros seis meses do bebê, se necessário, deve-se oferecer água ou chazinhos caseiros?
Não. Especialmente até os seis meses de vida, tudo de que o bebê precisa é do leite materno. Fome e sede são saciados com a amamentação. A introdução de novos alimentos antes dos seis meses de vida pode aumentar o risco de uma série de doenças para o bebê.
6. E se a mulher tiver um "leite fraco", é preciso alguma complementação alimentar para o bebê?
Não existe “leite fraco”. Estudos comprovam que as mulheres produzem leite de ótima qualidade mesmo tendo uma alimentação relativamente pouco nutritiva. Porém, é, obviamente, recomendado que a mulher tenha uma alimentação saudável durante a amamentação para não existir riscos de quaisquer prejuízos ou para otimizar ao máximo a qualidade do leite. Ora, se existe uma preocupação em dar uma complementação alimentar para o bebê, invista na alimentação da mãe no lugar. E é preciso também lembrar da vitamina D, mencionada na ´observação´ acima, e outros cuidados na alimentação/uso de medicamentos.
7. A mulher que está amamentando deve comer derivados de milho, cerveja preta, caldo de carne entre outros alimentos calóricos para produzir mais leite?
O que aumenta a produção de leite nas mamas é a sucção feita pelo bebê, a extração manual ou o uso de bombinhas. Quanto maior a demanda pelo leite materno, maior a sua produção.
8. Na fase da introdução do ovo na alimentação da criança, deve-se oferecer primeiro a gema depois a clara.
Antigamente a comunidade científica acreditava que sim, mas estudos posteriores mostraram que a melhor forma de se oferecer o ovo para a criança no início da introdução de outros alimentos - além do leite na sua dieta - é pela forma completa do mesmo, ou seja, clara e gema juntos.
E ATENÇÃO: Sempre busque orientações de profissionais responsáveis de saúde. Use artigos como este apenas como base inicial de referência a ser discutida com médicos especializados.
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